Martins & Monteiro | Entrevero, de Michel Zózimo
24/05/2025 - Por ArtRio


Zózimo apresenta trabalhos em múltiplos suportes — colagens, desenhos, pinturas, cerâmicas, bordados, bronze e madeira —, todos marcados pela mesma lógica formal e rítmica. A diversidade dos meios não compromete a unidade do conjunto, pelo contrário: a reforça. Os bordados, feitos em parceria com a artista Fernanda Gassen, são como pinturas feitas com agulha, em que a técnica se reinventa conforme
as exigências da imagem. As cerâmicas, iniciadas há mais de uma década, trazem o peso do tempo maturado entre modelagem, padrão e matéria.
O título Entrevero opera como núcleo conceitual e campo semântico expandido. Nomeia o que se mistura, o que se embaralha, o que se vê sem nitidez. Carrega, ainda, a ressonância regionalista do sul do Brasil:
a confusão como embate, como tensão indistinta entre forças em movimento. E, por fim, deixa ecoar o verbo “entrever”, esse gesto liminar entre o visível e o que escapa. A exposição, como o nome sugere, é um território de emaranhados: entre técnica e intuição, natureza e artefato, figura e fundo, humano e não humano.
Zózimo dá mais desdobramentos à sua pesquisa principal de imagens enciclopédicas antigas, atravessadas por marcas de sua própria temporalidade — ruídos da impressão, texturas involuntárias, falhas que se tornam matéria. A essas imagens ele responde com um gesto paciente e contínuo, que remete à tatuagem tebori: sobre o papel, o nanquim constrói luz e sombra por meio de retículas de pontilhados, como se desenhasse a partir de uma memória táctil do tempo. É uma espécie de transe gráfico, que o artista Cristiano Lenhardt, autor do texto da exposição, descreve como “psicogravação” — um fazer que se aproxima da meditação e que dissolve o autor em sua própria repetição.
Entrevero, de Michel Zózimo
Martins & Monteiro | Rua Jamaica 50 – São Paulo
De 24 de maio a 28 de junho de 2025
De terça a sexta, das 10h às 19h, sábados – das 11h às 17h
Entrada gratuita